domingo, fevereiro 3

INSTINTO - INTELECTO - INTUIÇÃO

“[...] Aconteceu uma vez...

As pessoas realmente intuitivas viviam nas florestas ou nas montanhas, e os intelectuais – os professores, os pundits ou eruditos hindus, os letrados, os primeiros-ministros – costumavam procurá-los com os seus problemas porque, conforme dizem: ‘Nos somos cegos... vocês têm olhos.’ Aconteceu com Buda. Ele estava cuidando do acampamento dele numa da margens de um rio e de ambos os lados os exércitos esperavam. Havia dois reinos e o rio era a fronteira, e eles vinham se enfrentando ao longo de gerações para decidir a qual dos reinos o rio pertenceria, porque a água era valiosa. E eles não eram capazes de decidir – então tornavam a água do rio vermelha de sangue e a luta continuava.

Buda montou acampamento ali e os generais de ambos os exércitos o procuravam. Por acaso, eles entraram no acampamento ao mesmo tempo e se avistaram. Ficaram chocados com a estranha coincidência, mas no momento não havia como recuar. Buda disse:

- Não se preocupem, é bom que tenham chegado juntos. Os dois são cegos, os seus predecessores eram cegos. O rio continua fluindo e vocês continuam matando pessoas. Não conseguem ver esse fato simples? Vocês dois precisam de água, e o rio é grande o suficiente.

‘Não há necessidade de possuírem o rio... e quem pode ser o possuidor? Toda a água corre para o oceano. Por que não podem os dois usá-la? Uma margem pertence a um reino, a outra margem pertence ao outro reino... não há problema. E não há necessidade nem mesmo de traçar uma linha no meio do rio, porque as linhas podem ser arrancadas pela água. Usem a água, em vez de lutar...’

Era tão simples. E eles entenderam que os seus campos e as suas colheitas estavam morrendo porque não tinham ninguém para cuidar delas. Lutar era o mais importante: quem possuía o rio? Primeiro a água tinha de ser possuída; só então poderiam irrigar os campos.

Mas a mente estúpida pensa apenas em termos de possessão. O homem de discernimento pensa em termos de utilidade.

Buda disse simplesmente:

- Usem o rio! E me procurem de novo quando tiverem usado toda água. Então não haverá problema, e então veremos. Mas me procurem de novo apenas quando tiverem usado toda a água.

A água continua fluindo depois de vinte e cinco séculos. Como você pode usar toda a água? É um rio muito grande, com milhares de quilômetros de comprimento. Ele traz a água das neves eternas dos Himalaias e a leva para o mar de Bengala. Como se poderia exauri-lo? E aqueles reinos eram apenas reinos pequenos. Mesmo que quisessem exauri-lo, não havia como.

O discernimento deve vir da pessoa intuitiva. Mas o discernimento pode ser apenas entendido pelos inteligentes, e os inteligentes podem ajudar os políticos de instinto, para os quais o único desejo é poder. (grifo meu)

Isso eu chamo de meritocracia, porque o mérito supremo domina e influencia os degraus inferiores, ajudando-os a subir acima do seu nível. Não há interesse investido, e por não haver interesse investido, ele é livre e o seu discernimento é claro. É difícil para as pessoas intuitivas explicar alguma coisa às pessoas instintivas porque elas estão muito além, pertencendo a duas dimensões diferentes sem nenhuma ligação. No meio, o intelectual pode ser de enorme ajuda.

As universidades, as faculdades, as escolas não devem apenas ensinar ciência política – é uma idéia estúpida ensinar ciência política! Ensinar ciência mas também ensinar arte política, porque ciência não tem utilidade; você tem de ensinar política prática. E os professores das universidades devem preparar políticos, dar-lhes determinadas qualidades. Então as pessoas que estão governando no momento em todo o mundo não vão conseguir nada. Então você vai encontrar governantes bem treinados, instruídos, conhecendo a arte da ciência política, e sempre prontos a consultar os professores, os pesquisadores e letrados, e pouco a pouco talvez seja possível que eles possam se aproximar do mais alto nível da meritocracia: as pessoas intuitivas.

Se isso for possível então teremos, pela primeira vez, algo que é realmente humano – dando dignidade à humanidade, integridade às pessoas.

Pela primeira vez você terá uma verdadeira democracia no mundo. O que existe hoje como democracia não é democracia – é oclocracia, domínio da plebe. [...]” OSHO. Intuição – O saber além da lógica. Tradução de Henrique Amat Rego Monteiro. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 2001. p. 103-105.

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